domingo, 16 de agosto de 2015

#10 O potencial turco

Um novo líder?
Nossa quinta parada foi na Turquia, um belo país de 75,6 milhões de habitantes e uma história fortemente atrelada à agricultura. Esta corresponde por aproximadamente 10% da formação bruta de capital fixo (FBCF) do país, e atende a 25% dos empregos. Os principais mercados agrícolas turcos são, em ordem aleatória: frutas e vegetais, ração animal, pecuária e a indústria leiteira. A demanda por alimentos no país cresceu a impressionantes 14% de 2007 a 2014, e as expectativas para a mesma taxa até 2017 são de 6% ao ano. Suas exportações para a Europa, Oriente Médio e África (EMEA) expandiram cerca de cinco vezes entre 2000 e 2012, o que resultou em grande oferta de investimentos no desenvolvimento do agronegócio e indústria alimentícia na referida década e na presente.
O governo fala num posicionamento entre os top 5 países no agronegócio mundial até 2023, via, principalmente, seguridade tributária, baixo custo de força de trabalho e financiamento competitivo ao capital externo direcionado ao desenvolvimento do setor doméstico. Cheguei ao país com essa pergunta na cabeça... O quão próximos estão da ambiciosa meta?
Nosso anfitrião no país foi Louis Chirnside, há anos colaborador da Nuffield e produtor de tomate na Austrália. Em sua companhia, percorremos a península de Galípoli, em homenagem aos 100 anos do Dia ANZAC, celebrado em 25 de abril, e as cidades de Çanakkale, Bursa e Istambul.
A paisagem natural turca é uma das mais bonitas que já presenciei, e ter a oportunidade de fazer esse percurso pela estrada, com breves paradas em vilarejos ao longo do caminho, conversando com os residentes (no meu melhor turco), provando as especiarias locais, foi extremamente prazeroso.
Aqui também relatarei a passagem pelo país em eventos – não em dias –, e espero expressar da melhor forma possível a minha percepção do que presenciamos e das empresas que visitamos.
A primeira e ótima visita aconteceu à Merko, maior processadora e exportadora da indústria alimentícia na Turquia, com o tomate como matéria-prima. A empresa produz pasta de tomate e extrato para uso industrial.
Jim em uma das estufas da Merko
A Merko tem contrato com cerca de 300 produtores, e o tomate é cultivado em mais de 20,0 mil hectares, tendo a produção recorde acontecido em 2008, quando atingiu 240,0 mil toneladas, desempenho este nunca mais reproduzido, graças às condições climáticas da região. Todo o contingente produzido é direcionado às exportações (para o Japão, principalmente).
O fator mais marcante da visita à Merko foi, para mim, a clara diferenciação das barreiras tecnológicas existentes na agricultura. A estrutura da empresa é incrível: modernizada, padronizada e higiênica. Todos os possíveis fatores de optimização no processo industrial foram implementados, levando-o a uma ótima performance. Ao questionarmos o grupo sobre o que ainda se interpõe, entretanto, como desafio ao crescimento, a resposta foi a imprevisibilidade da produção no campo.
O homem pode controlar todo o processo industrial, acelerar etapas, reproduzir condições climáticas em ambientes fechados, automatizar 100% de sua produção, e nas lavouras pode desenvolver sementes transgênicas, tratar o solo e pulverizar as plantas com substâncias que facilitarão seu desenvolvimento, mas nunca deixará de ser completamente refém das condições naturais que envolvem o cultivo agrícola. E isso é fascinante. Ainda que façamos a nossa parte, no setor agrícola isso não é garantia certa de sucesso. Na minha opinião, há beleza na imprevisibilidade. Não sei quantas indústrias são tão desafiadoras quanto essa em que estou inserida.
Como exemplo, o tomate é uma fruta extremamente delicada e de difícil cultivo. Os agricultores têm lidado com excesso de chuvas nos últimos anos, o que potencializa a proliferação de doenças no campo, e quando há muito sol a fruta sofre impactos na coloração, sendo possivelmente rejeitada pelos compradores por estar fora do padrão de qualidade e aparência exigidos.
A empresa trabalha em parceria com as mesmas famílias de produtores há décadas, e a questão da sucessão no campo não parece estar no centro das preocupações da Merko. Segundo os diretores, o país passa, atualmente, por um renovado interesse na produção agrícola. A questão de dar prosseguimento à difícil tarefa que é administrar uma fazenda não parece ser problema para o povo turco. O tradicionalismo parece se encarregar da sucessão, portanto do futuro da agricultura de origem familiar no país.
Estivemos também na fazenda leiteira Feyz Süt. A empresa cuida de mais de 1,0 mil vacas de ordenha, que produzem impressionantes 12,0 mil litros/vaca/ano, enquanto a média do país é 4,0 mil litros/vaca/ano, e a dos top performance corresponde a 8,5 mil litros/vaca/ano. O CEO, Sencer Solakoglu, conversou conosco sobre os desafios de se produzir em escala quando se prioriza o tratamento individual e personalizado a cada um dos animais, numa busca pelo equilíbrio dos dois fatores (que não são necessariamente exclusivos), e nos máximos rendimentos que se pode auferir dessa combinação.
Além, Sencer falou sobre a atual realidade da indústria de laticínios na Turquia, em que 82% dos estabelecimentos de atividade leiteira possuem um rebanho de cinco vacas ou menos. Os produtores lidam com a falha ação do governo no combate à febre aftosa (FMD) e a outras doenças, o que afeta o desenvolvimento dos pequenos empreendimentos. Esses produtores têm, portanto, que utilizar de seus próprios recursos para proteger seus negócios (medidas de segurança fitossanitária, como vacinas, medicação via ração e etc.), o que contribui ao atraso da implementação de técnicas inovadoras e mais sofisticadas no sistema de produção, já que investimentos são direcionados à manutenção de problemas que em teoria são de responsabilidade da ordem pública.
Sala de ordenha na Feyz Süt
Nas instalações da Embaixada Australiana na Turquia conversamos com Sinan Ogun, diretor de sustentabilidade na Red Rock Minerals e coordenador na Zirve University. Sinan também falou sobre os obstáculos na inserção de novas práticas na agricultura turca, em que a inovação esbarra na difícil relação tríade entre academia, governo e produtores rurais.
Há uma grande questão emocional e conservadora que retarda oportunidades de desenvolvimento do setor: produtores não confiam na entidade pública, e a academia não acompanha as novas tecnologias lançadas ao redor do mundo (não estando coesa, também, ao setor privado). Esse impasse, porém, se origina de uma pequena barreira – coexistência e pesquisa colaborativa –, que gera custos elevados e injustificáveis.
Sinan trabalha pela inserção tecnológica junto ao produtor rural, para que se familiarize com novas práticas que podem vir a transformar a agricultura turca e realmente explorar sua ótima fonte de recursos e potencial produtivo, promovendo o país internacionalmente e transformando a sua competitividade.
Sobre a pergunta do início do texto, e sob minha limitada e parcial perspectiva, a Turquia ainda tem um longo caminho até os estrelados top 5 do agronegócio global. Este é um país com grande capacidade agrícola, clima favorável, solos férteis e uma história que se delineou junto ao desenvolvimento da agricultura, mas a desarticulação entre governo, produtores e empresas muito distancia essa meta, principalmente se pensarmos que 2023 não é um futuro mais tão distante assim.
De qualquer forma, precisamos da Turquia. É do interesse de todos que se desenvolva, explorando ao máximo seus recursos de maneira sustentável e com uma abrangência coletiva. E é do meu interesse que o consiga fazê-lo preservando sua tradição e paisagem natural tão singulares.

#10 The Turkish potential

A new leader?
Our fifth stop was in Turkey, a beautiful country of 75.6 million inhabitants and a history strongly linked to agriculture. This corresponds to approximately 10% of the gross fixed capital formation (GFCF) of the country, and represents 25% of jobs. The main Turkish agricultural markets are, in random order: fruits and vegetables, animal feed, livestock and dairy industry. Demand for food in the country grew at impressive 14% per year from 2007 to 2014, and expectations until 2017 are of 6% per year. Its exports to Europe, Middle East and Africa (EMEA) expanded about five times between 2000 and 2012, which resulted in a wide range of investments directed to the development of agribusiness and food industry in that decade and in the present.
The government talks about being positioned among the top five countries in global agribusiness by 2023 via, mainly, tax security, low cost workforce and competitive financing to foreign capital directed to the development of the domestic industry. I came to the country with this question in mind... How close are they from this ambitious goal?
Our host in the country was Louis Chirnside, for years a Nuffield contributor and tomato producer in Australia. We traveled to the Gallipoli peninsula, in honor of the 100th anniversary of the ANZAC Day, celebrated on the 25th of April, and to the cities of Canakkale, Bursa and Istanbul.
The Turkish natural landscape is one of the nicest I have ever witnessed, and the opportunity to make the trip by car, with brief stops at villages along the way, talking to residents (in my best Turkish) and trying the local food, was extremely pleasurable.
Here I'll also talk about the country in events – not days – and hope to be able to express the best way possible my perception of what we experienced and companies we visited.
The first and great visit happened to Merko, largest processor and exporter from the food industry in Turkey, with tomato as the raw material. The company produces tomato paste and extract for industrial use.
Jim in one of Merko's greenhouses
Merko has contracts with about 300 producers, and tomatoes are grown on more than 20.0 thousand hectares, with a record production of 240.0 thousand tons in 2008, performance never again repeated thanks to the climate conditions of the region. All that is produced is directed to exports (to Japan, mainly).
The most interesting thing about visiting Merko was, for me, the clear differentiation of the existing technological barriers in agriculture. The company's structure is amazing: modernized, standardized and hygienic. All possible optimization factors in the industrial process were implemented, leading it to a great performance. By questioning the group about what still stands, however, as a challenge to growth, the answer was the unpredictability of production in the field.
Man can control the entire manufacturing process, accelerate steps, reproduce climatic conditions indoors, automate 100% of its production, and in the field he can develop transgenic seeds, treat the soil and spray plants with substances that will facilitate their development, but never cease to be completely dependent to the natural conditions surrounding agricultural cultivation. That's fascinating. Although we do our part, in the agricultural sector that doesn’t mean guarantee of success. In my opinion, there is beauty in this unpredictability. I don’t know many industries as challenging as this one I work with.
As an example, the tomato is a very delicate fruit and difficult to grow. Farmers have been dealing with excessive rainfall in recent years, which enhances the proliferation of diseases in the field, and when there is too much sun the fruit suffers impacts in color, possibly being rejected by buyers for being out of the required standards.
The company works in partnership with the same families producers for decades, and the question of succession does not seem to be at the center of Merko concerns. According to directors, the country is currently going through a renewed interest in agricultural production. The question of continuing the difficult task of managing a farm does not seem to be a problem for the Turkish people. Traditionalism takes care of succession, consequently watching for the future of family farming in the country.
We were also at the dairy farm Feyz Süt. The company takes care of more than 1.0 thousand milking cows, which produce impressive 12.0 thousand liters/cow/year, while the national average is 4.0 thousand liters/cow/year, and the top performance producers hit 8.5 thousand liters/cow/year. The CEO, Sencer Solakoglu, talked to us about the challenges of producing scale when the priority is the individual and personalized treatment to each animal, trying to balance the two factors (which are not necessarily exclusive) and to derive the maximum income from this combination.
In addition, Sencer talked about the current situation of the dairy industry in Turkey, where 82% of the dairy business establishments have a herd of five cows or less. Producers deal with the failure of public actions to combat foot and mouth disease (FMD) and others, which affect the development of small enterprises. These producers therefore have to use their own resources to protect their business (plant health measures such as vaccines, in-feed medication and etc.), which contributes to delay the implementation of innovative and sophisticated technology in the production system, since investments are directed to the maintenance of problems, which, in theory, are of public order responsibility.
Milking parlor at Feyz Süt
At the Australian Embassy in Turkey we spoke with Sinan Ogun, director of sustainability at Red Rock Minerals, and coordinator at Zirve University. Sinan also explored the obstacles in the introduction of new practices in the Turkish agriculture, in which innovation bumps in the difficult triad relationship between academia, government and farmers.
There is a great emotional and conservative issue that slows development opportunities in the sector: producers don’t trust the public authority, and the academia doesn’t follow the new technologies released around the world (not being cohesive, either, to the private sector). This impasse, however, comes from a small barrier – coexistence and collaborative research – which generates high and unjustified costs.
Sinan works on the technological integration with farmers, so that they become familiar with new practices that may transform the Turkish agriculture and really explore a great source of resources and productive potential, promoting the country internationally and transforming their competitiveness.
On the question at the beginning, and in my limited and partial perspective, Turkey still has a long way to the starry top 5 global agribusiness. This is a country with great agricultural capacity, favorable climate, fertile soil and a story that was outlined by the development of agriculture, but the disconnection between government, producers and companies very distance that goal, especially if we think that 2023 is not a so far future.
Anyway, we need Turkey. It is in everyone's interest to be developed, exploring the most of their resources sustainably and with a collective scope. And it is in my interest that that happens while preserving its tradition and natural landscape, so unique.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

#09 A riqueza catariana

Um pedacinho de chão no sudoeste asiático
Um dos maiores contrastes pelo qual passamos, até agora, aconteceu na partida da Índia rumo ao Qatar. Do belo e emergente país asiático para o terceiro maior PIB per capita do mundo: Doha. A cidade concentra grande parte da atividade econômica e financeira do país, com uma população de aproximadamente 900,0 mil pessoas, e importa quase que integralmente todos os alimentos que consome. 
Estar em contato com uma nação predominantemente muçulmana, diferente da maioria cristã no Brasil, é um verdadeiro exercício compreensão e busca pelo não-julgamento. O Islão é duramente criticado – principalmente no ocidente – pelo tratamento às mulheres e rigidez de seus princípios. 
Particularmente, considero um privilégio a oportunidade de inserção nessa cultura (excluídos os pontos de inflexão), e observação de sua conduta, em seu habitat. Um olhar crítico sobre os acontecimentos desse país é necessário, ao mesmo tempo em que não me considero apta a julgá-lo. Não se acusa o que se desconhece.
Estivemos em Doha num período muito especial do ano para os muçulmanos: o Ramadão, o nono mês do calendário islâmico. É o mês no qual os muçulmanos praticam o jejum ritual, o quarto dos cinco pilares do Islão. É um tempo de renovação da fé, da prática mais intensa da caridade, e vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida familiar. É extremamente desrespeitoso ingerir qualquer alimento/líquido na presença dos fiéis. Foi uma experiência diferente para nós.
A passagem pelo país foi rápida (quatro dias), e contamos com o acompanhamento da bolsista Kara Knudsen, participante do programa da Nuffield em 2013. 
Dia 1: na primeira visita estivemos com David Beatty, da Meat and Livestock Australia (MLA). A empresa, de instituição pública, realiza pesquisas na indústria de carnes australiana e promove o produto australiano nos exterior.
A Austrália é um dos produtores de gado mais eficientes no mundo, e terceiro maior exportador de carne bovina. Estima-se que a renda bruta originada da produção de bovinos e vitelos no país aproxime-se dos US$ 7,7 bilhões. Discutimos, principalmente, os desafios de inserção de produtos nacionais em mercados externos, e o potencial demandante do Qatar. A população local cresce agressivamente, e o país prepara-se, desde já, para receber milhares (milhões?) de turistas na edição de 2022 da Copa do Mundo – centenas de construções por toda a Doha, em sua maioria com a finalidade de atender ao evento.
Dia 2: estivemos na Hassad Food, apresentada por Andrew Goodman.
Desde a sua criação, a empresa adotou um estado da arte modelo de investimento, objetivando oportunidades internacionais, sob perspectivas viáveis para sustentar as necessidades alimentares do Qatar.
A Hassad Food atua verticalmente em diversas cadeias, no Qatar, Austrália, Paquistão e Omã, potencialmente vindo a expandir sua influência na Europa, América do Norte e do Sul. 
Através de suas várias subsidiárias, produz 9,0 mil toneladas de forragem, 3,0 milhões de flores, 100,0 toneladas de vegetais, 190,0 mil toneladas de grãos e 290,0 mil ovelhas.
Sendo awesome na Roza Hassad
O objetivo maior da empresa é garantir segurança alimentar ao Qatar, seja através de grandes empreendimentos internacionais, seja apoiando comunidades locais a desenvolverem sua produção.
Atualmente, a Hassad é ativa na tentativa de mostrar ao governo que muito pode ser cultivado no deserto. Parte-se, então, para uma discussão do que é economicamente mais vantajoso: investir o quanto possível na facilitação de entrada de alimentos no país, e no firmamento de acordos intercontinentais, ou dividir as atenções com possíveis projetos que estimulam a agricultura local, ainda que sob condições tão adversas?
Numa perspectiva superficial e imediatista, é óbvio o estímulo à produção regional, mas então Andrew, de maneira muito perspicaz, nos mostrou alguns dos projetos que possibilitariam o desenvolvimento agrícola em terras agrícolas próximas a Doha, de maneira sustentável, estudos esses que têm sido estruturados há anos por dezenas de cientistas, agrônomos e economistas, e então pudemos visualizar o tamanho do desafio de se fazer crescer plantas em regiões ermas. Falamos aqui de bilhões de dólares em investimento, décadas de preparo do solo e construções gigantescas que permitam condições ambientais apropriadas ao crescimento da vegetação (a temperatura lá chega fácil aos 50ºC). Qual é o custo de oportunidade de um investimento bilionário desses? Qual seria a potencial expansão do consumo, ou aprimoramento da seguridade alimentar, caso esse mesmo capital fosse aplicado na abrangência da influência catariana sobre o trading global agrícola? A conclusão não é tão óbvia assim... 
À tarde, nos encontramos com Mohammad Fawzy e Salim Pathan, da Qatar Flour Mills (QFM).
A QFM possui 40 anos de atuação, e importa e processa grãos em Doha, distribuindo seus derivados a todo o país. Essa foi uma das únicas oportunidades que tive, até o presente, de conhecer um negócio movido por demanda (teoricamente) inelástica, que garantirá a oferta, independente das condições de mercado. Tudo bem que as condições sejam excepcionais, mas isso não deixa de ser incrível.
As estimativas de crescimento populacional proporcional do país são impressionantes. Nos últimos cinco anos, a população catariana expandiu de 1,5 milhão de pessoas para 2,2 milhões, e para os cinco próximos anos esse número deve chegar a 3,5 milhões. Fornecer alimento a um país que importa 98% de seu consumo envolve uma matemática complicada. Deve-se suprir a demanda atual, pensando à frente na acelerada expansão populacional, sempre com uma margem de estoque capaz de abastecer o país por seis meses (estoque/uso deve ser igual a 50% da demanda do ano + variação de aumento do consumo). 
Na QFM
Perguntei à Salim e Mohammad se, devido à exposição do Qatar às circunstâncias exógenas (mercado internacional), havia algum mecanismo de segurança contra as oscilações dos preços das commodities. A resposta é que não, não há. A QFM garantirá a oferta de seu produto independente do que se paga pela matéria-prima. O que move o país é a demanda, e não o preço. Isso, meus amigos, é que é ser privilegiado.
Já como um reflexo do aumento populacional, a QFM está sempre rodando em capacidade máxima, e sempre expandindo. As expectativas quanto aos rumos do negócio são, até o momento, as melhores possíveis.
Dia 3: visitamos o mercado de frutas e vegetais e o de camelos. Frutas frescas, vegetais bonitos, alimentos muito bem conservados... e sob um sol de quase 50ºC. É surpreendente o quão eficiente é o sistema logístico da região. Em condições de calor extremo, empresas importam, processam, distribuem, comercializam produtos altamente perecíveis por todo o país, sem qualquer comprometimento de qualidade.
Estar no Qatar foi como estar na bolha Singapura: um país extremamente capitalizado com grandes projetos e sonhos, justamente por ter condições de subsidiá-los. Ainda assim, o bom entendedor capta o que é dito e também o que não o é. E os trabalhadores “chão de fábrica”? Os que ocupam as atividades sumariamente braçais, as mais simples, primárias na cadeia de valor... Será que têm acesso às mesmas oportunidades de desenvolvimento? Será que participam do crescimento do país? Será que são nativos, ou mão-de-obra importada de economias emergentes? Quem está construindo as mais de 500 estruturas que esperam a Copa do Mundo em 2022? Isso cabe ao bom entendedor descobrir.

#09 The Qatari wealth

On a tiny place in the Southwest Asia
One of the biggest contrasts we witnessed so far happened during the transition from India towards Qatar. From the beautiful and emerging Asian country to the third highest GDP per capita in the world: Doha. The city is responsible for a major part of the economic and financial activity in the country, with a population of approximately 900.0 thousand people, and imports almost entirely all the food consumed.
Being in touch with a predominantly Muslim nation, unlike the Christian majority in Brazil, is a true exercise of understanding and pursuit of non-judgment. The Islam is severely criticized – particularly in the West – for the way women are treated, and for the stiffness of its principles.
I personally consider it a privilege to get to experience this culture (despite its controversial aspects), and to observe natives in their genuine behavior, in their habitat. A critical look at the events is necessary, but I don’t consider myself able to judge Qatar. I won’t accuse what’s unknown to me, having been raised in a different environment.
We were in Doha in a very special time of the year for Muslims, the Ramadan, the ninth month of the Islamic calendar. It is the month in which Muslims practice the ritual fasting, the fourth of the five pillars of Islam. It is a time of renewal of faith, and deep experience of fraternity, cherishing values like life and family. It is extremely disrespectful to ingest any food/liquid in the presence of the faithful. That was really a different experience for us.
We stayed in the country for a short time (four days), and relied on the monitoring of Kara Knudsen, scholar from the 2013 Nuffield program.
Day 1: at our first visit, were with David Beatty, from the Meat and Livestock Australia (MLA). The company, public institution, conducts research in the Australian meat industry, and promotes Australian livestock products overseas.
Australia is one of the most efficient livestock producers in the world, and third largest exporter of beef. It is estimated that the gross income of cattle and calves in the country moves closer to US $ 7.7 billion. We discussed mainly the challenges of the domestic products insertion in foreign markets, and the potential Qatari demand. Local population grows aggressively, and the country is getting ready to host thousands (millions?) of tourists in the 2022 edition of the World Cup – hundreds of buildings throughout Doha, mostly in order to meet the event.
Day 2: we were at Hassad Food, presented by Andrew Goodman.
Since its creation, the company has adopted a state of the art of investment model, aiming at international opportunities under viable prospects to sustain the Qatari food needs.
Hassad Food operates vertically in several chains, in Qatar, Australia, Pakistan and Oman, potentially expanding its influence in Europe, North and South America.
Through its various subsidiaries, the company produces 9.0 thousand tons of fodder, 3.0 million flowers, 100.0 tons of vegetables, 190.0 thousand tons of grain and 290.0 thousand sheeps.
Being awesome at Roza Hassad
The country’s major goal is to ensure food security to its inhabitants, whether through large international enterprises, or supporting local communities to develop their production.
Currently, Hassad is engaged in showing the government that much can be grown in the desert. We then reflected on what is most economically advantageous: to invest as much as possible in facilitating food into the country, and in the firmament of trade agreements with others, or to share efforts with possible projects that would stimulate the local agriculture, even though this comes under such adverse conditions?
From a superficial perspective, the encouragement of regional production is obvious, but then Andrew, in a very insightful way, showed us some of the projects that would enable agricultural development in Doha on a sustainable manner, a research that has been structured for years, with help of dozens of scientists, agronomists and economists. We could then have an idea of the challenge of growing plants in wilderness regions. It’s about billions of dollars in investment, decades of tillage and gigantic constructions that would allow appropriate environmental conditions for the vegetation growth (the temperature there gets easily to 50°C). What is the cost of opportunity of a billionaire investment like this? What would be the potential expansion of consumption, or improving food security if this capital was directed to the Qatari influence on the global agricultural trading? Conclusions are not that obvious...
In the afternoon, we met Mohammad Fawzy and Salim Pathan, from Qatar Flour Mills (QFM).
The QFM has 40 years of experience, and imports and processes grains in Doha, distributing its derivatives throughout the country. That was a unique experience for me: meeting a business driven by inelastic (theoretically) demand, which will ensure supply, independent of market conditions. The conditions here are exceptional, but still amazing.
Estimates of proportional population growth of Qatar are impressive. Over the past five years, the Qatari population expanded from 1.5 million to 2.2 million, and for the next five that number is expected to reach 3.5 million. Providing food to a country that imports 98% of its food consumption involves a complicated math. It is due to meet the current demand, thinking ahead in the accelerated population growth, always with a margin of stock able to supply the country for at least six months (stock/use must be equal to 50% of the year’s demand plus changes in increased consumption).
At QFM
I asked Salim and Mohammad if, due to Qatar’s exposure to exogenous circumstances (international market), there was some kind of safety mechanism against fluctuations in commodity prices. The answer was no, there is not. The QFM ensures the provision of its product, no matter what is paid in inputs. The country is demand driven, not price driven. That, my friends, is what privilege means.
Reflecting the population growth, QFM is always running at full capacity, and always expanding. Expectations as to business directions are, so far, the best possible.
Day 3: we visited the fruits and vegetables market and the camels one. Fresh fruits, beautiful vegetables, very well conserved food... and under a 50ºC sun. It's amazing how efficient is the logistics system in the region. In extreme heat conditions, companies import, process, distribute and commercialize highly perishable products across the country without any quality compromise.
Being in Qatar was like being on the bubble Singapore: a highly capitalized country with big dreams and projects, fairly because it can subsidize them.
Still, the good listener captures what is said and also what is not. What about the unskilled workers? Those holding the menial activities, the simple ones, primary in the value chain... Do they have access to the same development opportunities? Are they participating in the country’s growth? Are they native or hand labor imported from emerging economies? Who is building the more than 500 structures waiting for the World Cup in 2022? That's for the good listener to find out.

sábado, 4 de julho de 2015

#08 A incrível Índia

O país contradição
Terceira parada: Índia. Como é difícil descrevê-la...
Indicativos são fáceis: 1,3 bilhões de habitantes, 10ª economia em PIB (US$ 1,87 trilhões), 22,5% da população analfabeta, expressiva produção agropecuária (aproximadamente 50% da força de trabalho do país) e um primeiro ministro que assumiu em 2014 com propostas ambiciosas de desenvolvimento de infraestrutura e erradicação da corrupção.
Sendo bastante sincera, a grande questão indiana está no sentimento que essa experiência nos despertou. A Índia é marcada por contradições: população miserável, e ainda assim tão alegre e receptiva, grande discriminação de gênero, e ainda assim conhecemos mulheres fortes e líderes em suas comunidades, maior rebanho bovino do mundo, e não consomem carne bovina, hotéis cinco estrelas margeados por grandes favelas, um dos maiores players no agronegócio global, e inúmeros empreendimentos rurais sem qualquer indício de mecanização.
Em resumo, o país tem uma personalidade muito distinta e atípica, em que beleza e pobreza se complementam.
Sua “digestão” se dá aos poucos. Por dez dias percorremos as cidades de Madurai, Thekkady, Amritsar, Ludhiana e Delhi, do sul ao norte. Não descreverei as atividades diárias, mas as dividirei em duas etapas: ao sul, sob guia do também nuffieldeiro Ramesh Thiruppathi, e nas cidades centrais, com o acompanhamento de Malwinder Malhi, gestor de projetos na Syngenta.
A primeira visita, em Chennai, foi à cooperativa Aavin, um ótimo começo, em que pudemos nos deparar, pela primeira vez, com as verdadeiras proporções de um país de 1,3 bilhão de cidadãos.
Aavin é a marca do leite produzido pela cooperativa Tamil Nadu, e engloba os processos de coleta (dos produtores), processamento e venda, além de produtos lácteos. A empresa fornece mais de 1,5 milhão de litros todos os dias (apenas em Chennai), e se encarrega também da entrega ao consumidor, porta a porta.
O estado de Tamil Nadu possui uma população de aproximadamente 75,0 milhões de habitantes, um rebanho de 100,0 milhões de vacas e 2,2 milhões de produtores associados à cooperativa. É difícil imaginar como uma organização tão grande se mantém coordenada e acessível à defesa dos interesses de todos os cooperados, mesmo considerando-se que a assistência técnica e insumos rurais são fornecidos (sob duras críticas de ineficiência) pelo Estado.
Visitamos também as instalações da LS Mills Limited, empresa de fiação em Madurai. Com estrutura moderna e diferenciada, a empresa conta com mais de 2,5 mil colaboradores, que recebem, em média, US$ 0,18 a hora trabalhada, do preparo da pluma do algodão à fabricação de tecidos (200, 500, 1.200 linhas...). Este é só mais um dos fatores que me faz pensar que, talvez, a indústria têxtil no Brasil realmente já tenha perdido a sua oportunidade de ouro.
LS Mills Limited
Com uma consecutiva retração da receita ano a ano e perda de mercado interno para produtos importados, estamos em desvantagem em relação à Índia tanto em qualidade de produtos quanto em custo de produção. Não tenho embasamento estatístico para discutir a folha de pagamento do cotonicultor brasileiro, mas com certeza não nos nivelamos à baixíssima faixa salarial indiana. A deterioração do setor leva em conta, também, o cenário macroeconômico que vivemos no presente. Se a situação é grave e generalizada, imaginemos para setores que já estavam em crise anteriormente.
Conhecer um país e o funcionamento de seu setor agrícola significa, também, conhecer os pequenos empreendimentos, os de pequena escala, produção dedicada parcialmente à subsistência, de baixo fator tecnológico. Por isso, fico feliz que tenhamos nos reunido com os produtores da vila Wadala Khurd em Amritsar, já na segunda parte do percurso.
Conhecemos 30 famílias que cultivam em média 5,0 hectares (cada) de arroz, trigo e outros. Aparentemente, os produtores menos capitalizados são praticamente invisíveis ao radar de subsídios do governo. O recurso existe, mas a normativa e a corrupção (tão tangente quanto a brasileira) fazem com que seja praticamente inacessível aos menos favorecidos: juros elevados, assistência técnica teoricamente gratuita e pública, mas que segundo as famílias é inexistente, falta de fomento ao desenvolvimento da cadeia de agrícola da região, que poderia agregar valor aos produtos locais, dentre inúmeros outros problemas...
Um agradecimento especial a essa comunidade, que nos recebeu com tanto carinho e se mostrou tão disposta a discorrer sobre seus problemas e aspirações. Que o sucesso seja consequência de sua superação, vencendo todas as circunstâncias adversas que a circunda.
Em contato com a produção acadêmica indiana, visitamos a Punjab Agricultural University (PAU). Passamos o dia com os pesquisadores da instituição, nos núcleos de pesquisa de aquicultura, pecuária, grãos e cereais, e conversamos com o corpo da reitoria.
Para lidar com uma realidade em que mais de 50% da mão-de-obra do país está inserida na agricultura, a equipe de extensão da universidade tem feito um incrível trabalho de busca por soluções em insumos e manejo para produtores de baixa escala, ou com pouca inserção tecnológica.
Me impressionou o comprometimento desses profissionais com o desenvolvimento da agricultura do país. Em geral, a Índia é representada por produtores pouco capitalizados, dependentes de subsídios do governo e distantes das práticas agrícolas atuais. No entendimento dos acadêmicos, a disparidade em produtividade e oportunidade de crescimento no setor agrícola entre o simples agricultor e os grandes produtores só será superada (ou ao menos amenizada) se esses pequenos receberem alguma forma de assistência pública, direcionada às suas condições de trabalho. Subsidiá-los com infraestrutura não é o suficiente para que prosperem. É preciso que tenham conhecimento de manejo e acesso às melhores sementes às condições edafoclimáticas regionais, e que estejam inseridos em algum tipo de comercialização. Só assim, serão capazes de se tornar competitivos e sobreviverem à expansão agropecuária que a Índia tem experimentado.
Conhecemos também a fazenda do empreendimento Namdhari Seeds, empresa de sementes de flores, vegetais e frutas, líder na Índia e 6ª maior do mundo. A empresa exporta para a Europa, Ásia e América, conta com mais de 2,0 mil colaboradores e contrato com 10,0 mil produtores, em mais de 4,0 mil hectares.
Frutas deliciosas na Namdhari Seeds
Bem sucedida e estabelecida, a companhia busca agora expansão via investimento externo, objetivando maior projeção internacional. A abertura de mercados tão rigorosos em relação ao tratamento de alimentos, como o europeu, tomou novas proporções com o desenvolvimento da cadeia de frios, que nos últimos cinco anos cresceu à média de 20% ao ano no país. Possibilitou, também, significativa redução no desperdício de frutas e vegetais indianos (estima-se que próximo aos 40%, quantidade suficiente para suprir o consumo brasileiro).
No mesmo dia, visitamos uma das empresas que mais gostei de conhecer na Índia: a Quality Fruit & Veg. Co.. Tivemos uma conversa muito interessante e inspiradora com o CEO, Nick Delgado, sobre crescimento e gargalos à gestão de empresas rurais. Nick veio do setor financeiro, e ao prestar consultoria a um grupo de produtores em Ludhiana, ao invés de aconselhá-los, começou a fazer uma série de perguntas, impressionado com a competência com que geriam o negócio.
Depois de abandonar o mercado financeiro, desiludido com a crise do subprime, Nick fundou a Quality Fruit & Veg. Co., investindo num trabalho que já estava sendo feito na região de Ludhiana com produtores de frutas e vegetais orgânicos.
Numa fala muito sincera e consciente, Nick discorreu sobre a necessidade de o pequeno produtor se distinguir para sobreviver. Segundo o CEO, traders não estão interessados na origem da commodity, o que contribui à baixa lucratividade dos produtores orgânicos. Estes devem investir em escala e exportarem eles próprios. Só assim, pela distinção e independência comercial, obterão melhores oportunidades de crescimento.
Nick também justificou a (praticamente) inexistência de cooperativismo no cenário agrícola indiano, graças à falta de confiabilidade entre os agricultores. Quando determinado grupo funda uma organização cooperativista, na maioria das vezes esta cresce substancialmente, mas de maneira desorganizada, sem base para se manter sustentável, vindo a se tornar domínio público (vários exemplos na Índia). O problema central, mais uma vez, está na falta de coesão entre os integrantes da cooperativa, sob o fato de confiarem em si mesmos.
Assimilei muito de sua fala com o que vem ocorrendo no Brasil em novas fronteiras agrícolas. O estado de Sergipe, por exemplo, tem grande potencial para o plantio do milho, podendo inclusive mudar a presente polarização do cereal no Centro-Sul. Observa-se vários produtores capitalizados, prósperos em seus negócios, mas que poderiam auferir margens substancialmente superiores se optassem por integração em cooperativa. A razão pela qual isso não acontece? A mesma que a indiana: desconfiança. Isso faz com que a fronteira se expanda lentamente, adiando oportunidades valiosas de investimento no setor.
Na visita à Embaixada Australiana em Dheli, conversamos com Kuhu Chatterjee, gerente regional do sul da Ásia na Australian Centre for International Agricultural Research (ACIAR), entidade dentro do setor de Relações Exteriores e Comércio da Austrália, que busca promover o crescimento de economias emergentes asiáticas (com foco na Índia), incentivando cientistas e instituições australianas a usar de suas habilidades na solução de problemas agrícolas nesses países. A temática que fundamenta sua atuação é segurança alimentar, e os pequenos produtores são instruídos sobre cultivo sustentável, melhores práticas de manejo e administração de seus empreendimentos.
Numa visão além relação entre países emergentes e Austrália, Kuhu discursou sobre as alternativas mais adequadas à agricultura indiana no presente. Não estando preparada para atender ao mercado internacional, considerando-se alguns produtos, o país deve se ater à movimentação doméstica. Algumas de suas mudanças de perfil: dieta mais voltada ao consumo de carboidratos, aumento da renda per capita, aumento do consumo de proteínas (inclusive carne bovina), dentre outros.
O mercado interno necessita de reestruturação devido à, principalmente, desintegração no processo produtivo frente aos limites geográficos impostos. Mercados na Índia são, na maioria das vezes, limitados às fronteiras municipais, o que enfraquece a cadeia e prejudica a adição de valor aos produtos.
Ainda assim, 60% da população nacional depende dos rendimentos agrícolas para ter o seu ganha-pão, o que eleva o temor quanto à necessidade de segurança alimentar.
No desfecho de nossa passagem pelo país, e num dos pontos altos do GFP, visitamos a Asha.
A chave de ouro
Talvez (e infelizmente), uma das formas mais comuns de se identificar a Índia é por sua superpopulação e miséria. Segundo o World Bank, cerca de 180 milhões de pessoas no país vivem abaixo da linha de pobreza (US$ 1,78/dia), ou sob extrema miséria, ou sob condições de vida indignas, como quiser chamar...
Creio que todos nós bolsistas estávamos apreensivos em nos deparar com essa realidade, sermos invadidos pelo sentimento de impotência e, no meu caso, certa responsabilidade – não acho que fronteiras continentais amenizam o compromisso dos cidadãos do mundo uns para com os outros. A Asha, no entanto, foi a resposta para essa expectativa.
Essa é uma organização fundada em 1988 pela doutora Kiran Martin, que tem como objetivo trabalhar com a comunidade urbana indiana pobre, promovendo transformações e desenvolvimento sustentável, que resultarão em qualidade de vida às famílias. A instituição se baseia em valores cristãos de fé, esperança e amor, oferecendo serviços de capacitação, inclusão financeira, Educação e mobilizando recursos para que essa população desfavorecida se sinta encorajada para mudar, ela mesma, o meio em que vive.
A Asha não é (só) uma entidade beneficente, mas uma mão estendida (talvez a única) àqueles que buscam acesso aos direitos humanos básicos e melhoria de vida em Delhi. Por esse motivo, a miséria com a qual nos deparamos é, apesar de desafiadora, o recôndito de reforma da comunidade e da organização. Em meio aos casebres e poluição, encontramos rostos felizes, sorrisos largos, mentes sonhadoras, universitários, crianças criativas e muita, muita força de vontade. Encontramos, enfim, pessoas que se recusam a ser vítimas da circunstâncias, e que mudarão os rumos de seus próprios destinos (e também o do país, por que não?).
Parti da Índia com o coração aquecido e uma grande lição: a permanência de uma situação, seja ela qual for, é uma escolha pessoal. Por mais adversa que seja a condição em que estamos inseridos, sempre há algo que podemos fazer por nós e pela comunidade que nos abriga.
A Índia é habitada por 1,3 bilhão de pessoas, cercadas de problemas estruturais, corrupção, criminalidade e outros, mas não devemos (principalmente a imprensa internacional) nos esquecer daquela parcela que nada contra a maré, e se utiliza dos recursos que tem em mãos para mitigar a realidade emergente do país.

#08 Increadible India

The contradictory country
Third stop: India. How difficult it is to describe this country… 
Indicators are easy: 1.3 billion inhabitants, 10th economy in GDP (US$ 1.87 trillion), 22.5% of the population illiterate, significant agricultural production (approximately 50% of the country's workforce) and a prime minister who took over in 2014 with ambitious proposals for infrastructure development and corruption eradication. 
Quite frankly, the great Indian issue is the feeling that this experience brought us. India is marked by contradictions: miserable population, and yet so cheerful and welcoming, great gender discrimination, but with strong women, leaders in their communities, largest cattle herd in the world and no beef consumption, five star hotels bordered by large slums, one of the largest players in global agribusiness, and numerous rural enterprises without any hint of mechanization. 
In short, the country has a very distinct and unusual personality, where beauty and poverty are complementary.
India’s "digestion" takes place gradually. For ten days we traveled the cities of Madurai, Thekkady, Amritsar, Ludhiana and Delhi, from south to north. I won’t describe the daily activities, but divide them in two steps: to the south, under the assistance of the also scholar Ramesh Thiruppathi, and to more central cities, followed by Malwinder Malhi, project manager at Syngenta. 
First visit in Chennai was the Aavin cooperative, a great start in which we discovered, for the first time, the true proportions of a 1.3-billion people country. 
Aavin is the hallmark of milk produced by the cooperative Tamil Nadu, and includes the collection process (producers), processing and sale, as well as dairy products. The company provides more than 1.5 million liters every day (only in Chennai), and also takes care of delivery to the consumer, door to door. 
The population of the Tamil Nadu state is of approximately 75.0 million, a herd of 100.0 million cows and 2.2 million farmers associated with the cooperative. It is hard to imagine how such a large organization remains coordinated and accessible in the defense of interests of all members, even considering that technical assistance and rural inputs are provided (under harsh criticism of inefficiency) by the State. 
We also visited the LS Mills Limited, spinning mill in Madurai. With modern and differentiated structure, the company counts with over 2.5 thousand employees, who receive average US$ 0.18 per hour worked, and is responsible from the preparation of cotton lint to the manufacture of tissues (200, 500, 1.2 thousand lines…). This is just one of the factors that make me think that perhaps the textile industry in Brazil has actually lost its golden opportunity.
LS Mills Limited
With a consecutive contraction in year-over-year income and loss of domestic market for imported products, we are at a disadvantage compared to India both in quality products and production costs. I have no statistical basis to discuss the Brazilian cotton farmer payroll, but it’s certainly not as low as the Indian range. The sector deterioration also takes into account the macroeconomic environment we are facing. If it’s not a good situation in general, we can imagine for an industry that was already facing troubles before it all happened. 
To know a country and the functioning of its agricultural sector also means knowing the small enterprises, the small-scale production, partially dedicated to subsistence, with low technological factor. So I am glad we met the producers of Wadala Khurd village in Amritsar, in the second part of the Indian trip. 
30 families growing on average 5.0 ha (each) of rice, wheat and others. Apparently, less capitalized producers are practically invisible to the government subsidies radar. The resources exist, but the rules and corruption (such as tangent as in Brazil) make it practically inaccessible to the poor: high interest rates, theoretically public agronomical assistance, lack of support for developing the agricultural chain in the region, which could add value to local products, among many other problems... 
Special thanks to this community that welcomed us so warmly and was so willing to talk about their problems and aspirations. That success is a result of its own merit, overcoming all the adverse circumstances. 
On a more academic approach, we visited the Punjab Agricultural University (PAU), and spent the day with researchers in aquaculture, livestock, grains and cereals research centers, having also talked to the rectory body. 
To deal with a reality in which more than 50% of the country’s hand labor is embedded in agriculture, university extension staff has done an amazing job searching for solutions in inputs and management for small-scale producers, or with low technological insertion. 
I was impressed by the commitment of these professionals with the development of Indian agriculture. On a general way, India is represented by producers little capitalized, dependent on government subsidies and not familiar with the newest agricultural practices. In the academic understanding, the disparity in productivity and growth opportunity in the agricultural sector between the simple farmer and large producer will only be overcome (or at least mitigated) if these small receive some form of public assistance, targeted to their working conditions. Subsidizing them with infrastructure is not enough to thrive. There has to be management knowledge and access to better seeds, suitable to each environmental condition, and these farmers must be inserted in some kind of marketing. Only then, they will be able to become competitive and survive the agricultural expansion that India has experienced. 
We also met the farm enterprise Namdhari Seeds, seed company of flowers, vegetables and fruits, leader in India and 6th largest in the world. The company exports to Europe, Asia and America, has more than 2.0 thousand employees and contract with 10.0 thousand farmers in more than 4.0 thousand hectares.
Delicious fruits at Namdhari Seeds
Successful and well established, the company now seeks expansion via foreign investment, aiming greater international projection. The opening of markets as strict in relation to the processing of foods as Europe has taken new proportions with the development of cold chain, which in the past five years has grown to an average of 20% per year in the country. It has also enabled significant reduction in wastage of Indian fruits and vegetables (40% wastage, enough to supply the Brazilian consumption). 
On the same day we visited one of the companies that I enjoyed the most: the Quality Fruit & Veg Co .. We had a very interesting and inspiring conversation with the CEO, Nick Delgado, on growth bottlenecks and the management of rural enterprises. Nick came from the financial sector, and was providing consultancy to a group of producers in Ludhiana, when rather than advising them started to make questions, impressed by the competence with which they were managing the business. 
After leaving the financial market, disillusioned with the subprime crisis, Nick founded the Quality Fruit & Veg. Co., investing in a work that was already being done in Ludhiana region with organic fruit and vegetables. 
In a very sincere and conscious speech, Nick talked about the need for small farmers to distinguish to survive. According to the CEO, traders are not interested in the origin of the commodity, which contributes to the low profitability of organic producers. Farmers should invest in scale and export themselves. Only then, by distinguishing and being commercially independent, they’ll be able to enjoy better growth opportunities. 
Nick also justified the few cooperatives in the Indian agricultural scenario thanks to the lack of reliability among farmers. When certain group establishes a cooperative organization, most of the time it grows substantially, but in a disorganized manner, without a proper base to stay sustainable, then becoming public domain (several examples in India). The central problem, again, is the lack of cohesion among cooperative members, with the fact that they do not trust themselves. 
I could assimilate much of his speech with what is happening in Brazil in new agricultural frontiers. The state of Sergipe, for example, has great potential for corn planting, and it may even change the cereal polarization in the Mid-South. We can see several capitalized producers, prosperous in their business, but who could earn substantially higher margins if opted for cooperative structures. The reason this does not happen? Same as Indian: distrust. This causes the frontier to expand slowly, delaying valuable investment opportunities in the sector. 
During the visit to the Australian Embassy in Dheli, we talked with Kuhu Chatterjee, regional manager of South Asia at the Australian Centre for International Agricultural Research (ACIAR), an entity within the Foreign Affairs and Trade of Australia, which seeks to promote the growth of Asian emerging economies (focusing on India), encouraging scientists and Australian institutions to use their skills in solving agricultural problems in these countries. The theme that underlies its activities is food security, and small farmers are educated on sustainable farming, best management practices and management of their enterprises.
With a vision that goes beyond the relationship between emerging countries and Australia, Kuhu spoke on the most appropriate alternatives to Indian agriculture at present. Not being prepared to meet the international market, regarding some products, the country should stick to domestic dynamics. Some of its profile changes for the last decade: diet more focused to carbohydrate consumption, increased per capita income, increased protein consumption (including beef), among others. 
The internal market needs restructuring due to, mainly, disintegration in the productive process forward geographic boundaries. Markets in India are, for the most part, limited to municipal boundaries, which weakens the chain and affects adding value to products. 
Still, 60% of the population depends on agricultural incomes to have their breadwinner, bringing the fear on the need for food security. 
On the outcome of our wandering through the country, and one of the highlights of the GFP, we visited Asha.
The golden key
Maybe (and unfortunately), one of the most common ways to define India is by its overpopulation and poverty. According to the World Bank, about 180 million people live below the poverty line (US$ 1.78/day), or in extreme poverty, or under conditions unworthy of life, you name it. 
I believe that we all scholars were apprehensive to face this reality, and be invaded by the feeling of impotence and, in my case, certain responsibility – I don’t think continental borders alleviate our commitment of world citizens one to another. Asha, however, was an answer to this expectation. 
The organization was founded in 1988 by Dr. Kiran Martin, which wanted to work with the poor Indian urban community, promoting change and sustainable development, which results in quality of life for families. The institution is based on Christian values ​​of faith, hope and love, offering training services, financial inclusion, education, and mobilizing resources so that disadvantaged groups feel encouraged to change their own fates, and the environment they live in. 
Asha is not (only) a charity, but an outstretched hand (perhaps the only) for those who seek access to basic human rights and life improvement in Delhi. For this reason, the misery we faced is, despite challenging, the origin for organization and structuring of the community. Among shacks and pollution, we found happy faces, broad smiles, dreamy minds, students, creative children and a lot of willpower. We found, in the end, people who refuse to be victims of circumstances, and that will change the course of their own destiny (and the country, why not?). 
I left India with a warm heart and a great lesson: the permanence of a situation, be it whatever, it's a personal choice. No matter how adverse it is the condition in which we exist, there is always something we can do for us and others. India is home to 1.3 billion people, surrounded by structural problems, corruption, crime and others, but we should not (especially the international press) forget that portion who swims against the tide, and uses the resources available to mitigate the country’s emerging reality.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

#07 Inspiração singapuriana

Grande bolha brilhante
A Austrália foi o ponto de encontro de três grupos: GFP Índia, GFP China e GFP Japão. Os três programas centralizam suas visitas na Ásia, e o passo seguinte foi partirmos todos para o continente asiático, rumo à bolha chamada Singapura.
Essa cidade-Estado é um verdadeiro exemplo de urbanização aliada à vegetação natural. Construções incríveis, templos, hotéis suntuosos e verde, muito verde. Com uma população de aproximadamente 5,0 milhões de pessoas, cerca de 2,0 milhões nasceram em outras regiões.
A cidade/país recebe a denominação de bolha graças ao expressivo desenvolvimento frente a outras partes do continente. Alguns índices comparativos com outras duas grandes potências da região: a taxa de analfabetismo em Singapura é de 7,6%, enquanto que na Índia e China a mesma corresponde a 22,5% e 15,1%, respectivamente. O PIB per capita singapuriano é de USD 55,1 mil, e de USD 1,4 mil e USD 6,8 mil nas outras duas economias, respectivamente. O IDH de Singapura (o melhor da Ásia e 9° melhor do mundo) é de 0,90 (muito elevado), enquanto que o da Índia e China são de 0,58 (médio) e 0,71 (elevado), respectivamente. A nota Standard & Poor’s singapuriana equivale a AAA (estável), e a indiana e a chinesa estão no patamar BBB- (considerada positiva) e AA- (estável), respectivamente. Eu poderia discorrer sobre inúmeras outras variáveis que ilustram o diferencial de Singapura, mas provavelmente “bolha” é a que melhor define esse Estado-cidade.
Dia 1: chegada, rápido passeio pela cidade e acomodações.
Dia 2: excelentes reuniões nas instalações da ANZ, maior grupo financeiro da Nova Zelândia.
Na primeira hora, conversamos com John Baker, CEO da First Agricultural Holdings (1AG), holding de investimentos dedicada ao agronegócio asiático.
John questionou paradigmas até então amplamente aceitos, como a escassez de terra, afirmando que talvez leve alguns anos para que realmente comecemos a nos preocupar com a alocação desse recurso (potencial expansão na Rússia, Brasil e outros). A escassez iminente, cujos desdobramentos já estamos vivendo, estão na mão-de-obra especializada e água.
Dan feliz na ANZ
Tendo-se essa situação em mente, John discorreu sobre os rumos do agronegócio global. O produtor rural se vê inserido numa cadeia que, em sentido linear, teria à sua esquerda algumas (grandes) empresas de insumos agrícolas, e à sua direita algumas (também grandes) traders. No meio, esse agricultor se soma a milhares de outros empreendimentos, pequenos, por sua vez. Falamos aqui de uma estrutura que John chamou de poucos-muitos-poucos, demonstrando a polarização do mercado em grandes companhias que dominam os extremos da cadeia de agronegócio.
Segundo John, caminhamos para uma realidade em que toda a cadeia de valor se resumirá numa grande propriedade. Exemplo disso seria a Apple (inevitável). As estimativas de 2015 apontam para um acúmulo de valor total da empresa que, se transformada num país, seria hoje a 9ª economia do mundo.
Consolidamos um sistema em que empresas se tornam maiores que sua própria indústria, e até maiores que países. A mais importante consequência dessa concentração talvez esteja na revolução da informação. Inevitavelmente, a maneira como recebemos informação mudará. Informação é o que direciona lucros, e essas mega empresas a possuirão.
Por isso, a estrutura poucos-muitos-poucos demanda do mercado uma organização meio Ricardiana. Produtores não devem concentrar seus esforços no lide com a valorização de terras, e muito menos com propriedade e manutenção de maquinário. Produtores devem priorizar a produção agrícola. Esta é a sua vantagem comparativa. Dessa forma, garantem autonomia e sobrevivência no mercado, enquanto as forças polarizadas continuam, inevitavelmente, a se fortalecer nos extremos.
Depois dessa fala um pouco assustadora (mas muito assertiva), John desconstruiu outro paradigma: o de que mercados consolidados proverão commodities a economias emergentes e grandes demandantes, como a China (e Índia, num futuro mais distante). Num verdadeiro plot twist, a 1AG prevê que a instalação de novos portos no sul do Vietnã, explorando o canal Kra Isthmus, ao sul da Tailândia, reduziria a distância entre a Malásia e a Tailândia em 2,0 mil km.
Isso aproximaria novos mercados, como a Rússia (autossuficiente em nutrientes, como NPK, e grande potencial de conversão de área) e a China, mais próximos do que dos tradicionais ofertantes, como Brasil e Estados Unidos.
Um provável acordo entre Rússia e China promoveria melhor distribuição de riscos de originação e reduziria custos, game change para os grandes players do agronegócio mundial. Para nós, brasileiros, se esse acordo se firmar e se não obtivermos melhorias consistentes no trato logístico, estamos fritos. O agronegócio atualmente move o PIB nacional, e a perda de sua competitividade traria graves consequências para a economia.
A apresentação de John foi excelente, com certeza um dos pontos altos do programa e cuja discussão reverberará por algum tempo entre nós.
Em seguida conversamos um pouco com o time da ANZ sobre futuro e tendências da Association of Southeast Asian Nations (ASEAN), bloco econômico no sudeste asiático que objetiva estimular o comércio de produtos e serviços entre os países membros e gerar condições de estabilidade política e econômica na região. Tem, além, um cunho de desenvolvimento cultural e social.
A ANZ acredita que na próxima década a ASEAN assumirá a posição de “nova fábrica asiática”. O que a globalização promoveu em grandes empresas na últimas décadas, derrubando fronteiras continentais e cosmopolizando processos produtivos rumo, principalmente, à China, está agora se repetindo em outros países asiáticos.
Enquanto muitas pessoas (como eu o fazia) pensam que grandes companhias ainda internacionalizam e transferem etapas de trabalho manual para a China, barateando custos de produção, a mão-de-obra chinesa é, atualmente, a mais cara do continente. O novos alvos são os países que margeiam o rio Mekong, um dos maiores do mundo: Camboja, Laos, Myanmar, Indonésia Vietnã e Tailândia. O investimento direto estrangeiro (IDE) hoje direcionado ao Mekong já é maior que o chinês.
Com grande potencial econômico e atenção de investidores de todo o mundo, o Mekong deve desenvolver três vetores básicos para estimular a geração de renda na Ásia, segundo a ANZ: demografia, urbanização e educação. Em 2020/25, significativa parcela da população asiática estará abaixo dos 30 anos de idade, o que se traduzirá em grande mercado consumidor. Para que essa demanda seja atendida, os eixos citados acima devem receber a devida atenção.
Em dez anos, estima-se que Indonésia, Camboja e Laos tenham a maior população economicamente ativa proporcional do mundo. Como consequência, observar-se-á um rápido crescimento de renda doméstica, ativando uma classe consumidora pela primeira vez na história da ASEAN.
A expansão da classe média e urbanização desses países gerará uma demanda crescente por alimentos, turismo e educação. Inúmeras novas oportunidades no horizonte...
No período da tarde, visitamos o incrível empreendimento Sky Greens, a primeira fazenda vertical do mundo. Com uma filosofia de soluções verdes em meios urbanos, a empresa produz até uma tonelada de vegetais diariamente, utilizando-se de mínimo consumo de água, energia e espaço.
Sky Greens
Dia 3: encontro com a equipe singapuriana da Syngenta e da Monsanto.
Discutimos com ambas o potencial de economias emergentes. 53% das vendas da Syngenta originaram desses países em 2014. A melhor performance se deu na América do Sul (ênfase ao Brasil). 80% do crescimento populacional atual também acontece nesses países. Acredita-se que em 2050 estes representem mais de 50% da demanda por alimentos.
Enquanto grandes propriedades representam cerca de 8,0 milhões dos estabelecimentos agrícolas em países em desenvolvimento, negócios de pequena escala somam mais de 450,0 milhões. Para atender a essa vasta classe, a Syngenta desenvolveu o chamado “The good growth plan”, um programa que visa, dentre vários objetivos, elevar a eficiência das principais culturas agrícolas mundiais em mais de 20% sem aumentar o consumo de água, terra e outros insumos.
As premissas são: mais biodiversidade e menos degradação, mais saúde e menos pobreza, mais alimento e menos desperdício e, principalmente, fortalecimento do pequeno produtor. A empresa está comprometida com mais de 20,0 milhões de produtores em todo o mundo, objetivando uma expansão média de produtividade em 50%.
Num futuro próximo, grandes complexos agropecuários esperam ter seu desempenho nivelado ao dos estabelecimentos pequenos, provando que podemos tornar o cultivo significativamente mais eficiente sem que tenhamos que usar mais recursos. Grande desafio para a iniciativa privada.
Syngenta
A visita ao país foi importante ao observarmos o que está sendo desenvolvido no continente para solucionar gargalos agrícolas e econômicos de países emergentes, além de aprender sobre seu potencial de crescimento. A bolha Singapura é força catalizadora de investimentos para a região, bolha de progresso e de mentes brilhantes e empreendedoras.
Depois de uma excelente introdução ao continente, é hora de partir para a gigante Índia.